Tourigo, o berço da Touriga Nacional

E se for mesmo verdade? ... estaremos preparados? Para sermos mesmo o berço da touriga nacional? Algum tempo passou desde que lançámos aqui o desafio de propor Tourigo como berço da Touriga Nacional, essa encubadora de taninos dos melhores vinhos nacionais. A ideia ganhou raízes, a início muito circunscritas, para depois "arrepiarem" caminho e lançarem a sua semente por vários sítios do cyberespaço. Porque não é todos os dias que uma freguesia tem como "marca de água" o nome de uma casta como a Touriga Nacional, siga as novidades em Tourigo, berço da Touriga Nacional

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Tourigo: berço da Touriga Nacional

Nesta altura em que, carinhosamente, se atam as videiras nos campos, não ficamos alheios a um nome que nos remete para o Tourigo...

Quem é apreciador do néctar de Baco e Dionísio, em especial do meigo vinho do Dão, não fica por certo alheio ao nome Touriga Nacional.
Mas o que é um nome sem o seu significado? Que raízes tem este nome que alimenta as cepas generosas que distinguem, em especial, os vinhos do Dão?

Este poderia ser um aspecto a ser estudado, não só pela curiosidade histórica, mas também pelos possíveis reflexos ao nível da promoção turística do Tourigo.
É que, para além do Leite com Gás, essa maravilha da Natureza nascida no Rego, Tourigo poderia ser conhecido como o provável berço da Touriga Nacional.

Afinal, não é todos os dias que uma freguesia tem como "marca de água" o nome de uma casta como a Touriga Nacional.

O vosso sempre atento,
JSR

Referências na Internet:

I. Sinonímia

Dão: Touriga Nacional, Tourigão, Tourigo Antigo
Bairrada: Tourigo do Dão
Douro: Touriga Nacional, Touriga Fina
Ribatejo Oeste: Touriga Nacional
Alentejo: Touriga Nacional
Setúbal: Touriga Nacional

Embora tenha sua fama associada ao Vinho do Porto e aos tintos de mesa do Douro, um certo mistério cerca as origens da Touriga Nacional. É difícil precisar em qual região vinícola portuguesa ela nasceu. Alguns estudiosos dizem que ela provém do Dão, apoiando essa afirmação em antigos relatos. Em 1900 Cincinnato da Costa escreveu, em seu livro "O Portugal Vinícola", que no século XIX 90% dos vinhedos do Dão eram plantados com esta uva - ali chamada de Tourigo ou pelos sinónimos Mortágua, Preto Mortágua ou Elvatoiriga. Os vinhos de Touriga são maciços de cor, apresentando-se em certos anos completamente opacos. Na região do Dão a Touriga Nacional é conhecida, normalmente, por Tourigo, embora se lhe reconheçam vários sinónimos, tais como Preto Mortágua, Mortágua, Elvatoiriga ou Tourigo Antigo. Este facto é relevante, pois a existência de uma pequena aldeia, entre Tondela e Santa Comba Dão, com o nome de Tourigo constitui um argumento importante para considerar esta casta originária do Dão. Também não deixam de ser significativos os sinónimos Mortágua e Preto Mortágua, surgidos a partir do topónimo da vila vizinha de Santa Comba Dão. Em contrapartida no Douro não se lhe conhece nenhum sinónimo com conotação geográfica.
- Informação in Copo de Três, acesso Fevereiro de 2008

II.
Rota do Vinho do Dão
“Tudo nestas paragens são grandezas”, escreveu José Saramago a propósito da região onde se produz o milenar vinho do Dão. Aqui sente-se a herança dos antigos monges agricultores, que marcaram de forma indelével as construções religiosas, a cultura da vinha e o modo de produzir o precioso néctar. Com a linha da poderosa Serra da Estrela a pontuar o horizonte, o Dão, com os seus Invernos chuvosos e verões quentes e secos, é zona de pequena propriedade, com vegetação exuberante, ar puro e numerosos cursos de águas límpidas correndo sobre berço granítico. Pinheiro bravo, carvalho e castanheiro são vulgares, mas é a vinha que predomina, com mais de 70 milhões de cepas plantadas. E que cepas! Terá sido no Dão, na aldeia de Tourigo, que nasceu aquela que é por muitos considerada a rainha das castas tintas portuguesas: a Touriga Nacional. Queijo, cabrito, presunto, enchidos, preenchem um longo e saboroso cardápio gastronómico. Frutos de grande carácter, como a maçã bravo de Esmolfe, são típicos da região. E há, além de centros urbanos carregados de história que interessa visitar (...), velhas aldeias perdidas no fundo dos vales ou nos altos das montanhas, à espera de serem (re)descobertas.
- Informação in ViniPortugal.pt, Rota do Vinho do Dão, acesso Fevereiro de 2008

III. Sua majestade a Touriga Nacional
Desde o início da década de 90, os portugueses estão num crescente encantamento com sua Touriga Nacional e com ela exercendo cada vez mais encanto no mundo vitivinícola. São inconfundíveis os vinhos gerados por esta casta, que tem origem no Dão (...).
Embora essa uva fosse muito utilizada no Dão, faltava um tratamento moderno aos seus vinhos na adega. As novas tecnologias e um estudo profundo de sua microbiologia no tocante à sua fermentação deram um arranque final para que fosse eleita a uva que tem a “cara de Portugal”. Em Portugal, a Touriga vai se firmando como a “casta rainha”. E o mais importante: como sinônimo de “casta lusitana”.
- Informação in Paodeacucarvinhos.com.br, acesso Fevereiro 2008

Mais referências: A Grande Uva Portuguesa
, in Winexperts.com.br, acesso Fevereiro 2008

IV. Esta poderia ser uma boa lenda para a origem da Touriga no Tourigo [reparem na singela referência ao LCG...]:

(...) Há muitos anos, em tempos remotos, fez Baco uma visita ao seu bom amigo Endovélico, o deus dos deuses da Lusitania. Atravessou serras e subiu penosamente ladeiras até chegar a terras banhadas pelo rio Dão.
Perto daquele local, à entrada de uma tosca cabana de pedra e troncos, havia um casal de lusitanos e um filhito. Baco ao vê-lo, correu para eles gritando:
- Pelos deuses, dai-me de beber!
O lusitano entrou na cabana e regressou com uma escudela de barro cozida ao sol, cheia de água. [Nota: aqui poderia ler-se LCG]
- Água? [LCG?] Acaso não tendes vinho?
O anfitrião arregalou muito os olhos, cofiou a barba entonça e volveu espantado:
- Não. Nós não sabemos o que é. Quereis vós comer?
E sem esperar resposta voltou com uma perna de cabrito montanhês.
À despedida, Baco, comovido pela franca hospitalidade do luso, disse-lhe:
- Ainda um dia hás-de saber o que é o vinho.
Alguns anos mais tarde uma centúria romana, marchando e cadência, parava à porta da singela habitação do lusitano.
Os legionários deixaram a forma e cada um deles abriu uma vala e na vala cada um deles pôs uma videira. Depois, tomaram os lugares e partiram como haviam vindo.
Num dos bacelos lia-se esta tabuleta:“Baco oferece reconhecido”.
Aquelas cepas deram a seu tempo saborosos bagos cujo suco o lusitano espremeu para beber no Inverno numa comunhão de força e rejuvenescimento, e assim, daquelas belas uvas da campânia, que eram uma delícia do bom Baco, havia nascido o generoso e salutar Vinho do Dão.
(adaptado de “Beira Alta Imaginários”), in http://www.lusawines.com/cA22.asp

3 comentários:

Anónimo disse...

Realmente essa faceta do Tourigo está por explorar e por descobrir. Sabemos, no entanto, que existia um convento no Tourigo assim como uma comunidade de padres que viviam na aldeia. Normalmente estas comunidades monásticas estão ligadas à doçaria tradicional portuguesa e eram também apreciadores e cultivadores do vinho que, neste caso, era também usado para as missas.

Eu não percebo assim tanto de história mas diria que este aspecto faz muito sentido quando ligado à casta Tourigo Nacional ... valeria a pena que fosse investigado ...

um abraço "bem regado" !
P.vê

Anónimo disse...

Esta poderia ser uma boa lenda para a origem da Touriga no Tourigo (reparem na singela referência ao LCG):

(...) Há muitos anos, em tempos remotos, fez Baco uma visita ao seu bom amigo Endovélico, o deus dos deuses da Lusitania.

Atravessou serras e subiu penosamente ladeiras até chegar a terras banhadas pelo rio Dão. Perto daquele local, à entrada de uma tosca cabana de pedra e troncos, havia um casal de lusitanos e um filhito. Baco ao vê-lo, correu para eles gritando:
- Pelos deuses, dai-me de beber!
O lusitano entro na cabana e regressou com uma escudela de barro cozida ao sol, cheia de água. [Nota: aqui poderia ler-se LCG]
- Água? [LCG?] Acaso não tendes vinho?
O anfitrião arregalou muito os olhos, cofiou a barba entonça e volveu espantado:
- Não. Nós não sabemos o que é. Quereis vós comer?
E sem esperar resposta voltou com uma perna de cabrito montanhês. À despedida, Baco, comovido pela franca hospitalidade do luso, disse-lhe: - Ainda um dia hás-de saber o que é o vinho.
Alguns anos mais tarde uma centúria romana, marchando e cadência, parava à porta da singela habitação do lusitano.
Os legionários deixaram a forma e cada um deles abriu uma vala e na vala cada um deles pôs uma videira. Depois, tomaram os lugares e partiram como haviam vindo. Num dos bacelos lia-se esta tabuleta:
“Baco oferece reconhecido”.
Aquelas cepas deram a seu tempo saborosos bagos cujo suco o lusitano espremeu para beber no Inverno numa comunhão de força e rejuvenescimento, e assim, daquelas belas uvas da campânia, que eram uma delícia do bom Baco, havia nascido o generoso e salutar Vinho do Dão.

(adaptado de “Beira Alta Imaginários”), in http://www.lusawines.com/cA22.asp

Anónimo disse...

TOURIGA NACIONAL

Origem


A heterogeneidade genética de todas as características qualitativas estudadas é maior, tal como acontece com o rendimento, nos clones provenientes do Dão, embora essa diferença de variabilidade não seja muito relevante.
De facto, grau álcool provável, acidez total do mosto e pH demonstram ter maior variabilidade nesta região.
Noutras características como polifenóis totais, antocianas, tonalidade e intensidade, onde a variabilidade genética já é mais acentuada, a heterogeneidade genética também é mais acentuada na região do Dão.
O mesmo acontece quando é analisada a variabilidade genética do peso e volume dos bagos.


A hipótese de ser originária de Tourigo, na região do Dão, sai reforçada com as análises de variabilidade genética efectuadas sobre as características quantitativas e qualitativas acima mencionadas.


O Dão possui sempre, em todas as características avaliadas, maior variabilidade que o Douro, embora a diferença não seja muito acentuada, possivelmente devido às razões já enunciadas de proximidade entre as duas regiões.

Gonçalves, Elsa M.F., 1996. Variabilidade Genética de Castas Antigas de Videira,