Se, muitas vezes, nos ocorre (por mera distracção, só pode!) que os governantes estão a gozar com o Zé Povinho, eis que chegou a vez das personagens trocarem (como Camões dizia: "torna-se o amador na coisa amada, por virtude do muito imaginar").
Por via do "esmiuçanço" felino ou do "gel do Povo", a verdade é que as entrevistas dos candidatos às legislativas feitas por humoristas; as intervenções/ arruadas levadas a cabo causticamente por humoristas ou as análises pseudo-politiqueiras da autoria também de humoristas trazem um colorido diferente ao panorama político do "jardim à beira mar plantado". As audiências destes momentos lúdicos são ilustrativas disso mesmo.
Tudo fica mais leve e, ao memo tempo, mais contundente. Os candidatos riem-se com gestos tensos e entram como que numa pista de dança sem saber muito bem os passos que devem fazer. Mas com o o barulho das luzes e o flash do tempo fugaz, a mensagem passa cheia de graça. Tudo numa tentativa (ou não) de amenizar as divergências, de mostrar que afinal o ponto de situação não é assim tão mau e que ainda há esperença... porque, no fim, "yes we can" fazer um Portugal melhor.
Interessante ainda é o timing com que os canais fazem as coisas, coordenando-se numa harmonia cósmica, por exemplo, na altura dos intervalos, para que fiquemos a pensar se é melhor seguir o "esmiuçanço" ou a entrevista com Medina Carreira. "É só escolher! É p'á menina e p'ó menino"; escolham entre o doce ou o amargo, que depois têm sempre momentos como "soltem a parede", o que nos leva a crer que é tudo uma continuidade de fait-divers de Verão (vernaculamente falando, programação televisiva para "encher chouriços").
E ainda só estamos nas legislativas! Mas já se avistam os fósforos inquietantes das autárquicas à espera de fulminar a qualquer momento. Entre paineis de mensagens megalómanas ou titânicas, quase somos levados a pensar que afinal temos verdadeiros heróis à frente das autarquias, de peito aberto ao vento contra quaisquer adamastores que se interponham entre os edis e o progresso...
No fundo, é tudo uma risota pegada, porque "quem ri seus males espanta", porque a brincar se dizem as verdades... e porque ainda há muita "febre de sábado à noite" na recta final do Verão.
É caso para dizer que Gil Vicente continua mais actual que nunca, com o seu "Ridendo Castigat Mores".
Aqui fica um exemplo:
Depois, lá fora, o tempo também é de eleições (com Durão outra vez ao leme da barca comunitária) e de humor ou talvez não... não se gasta assim leite com gás desta maneira: Milhões de litros de leite contra política europeia!
O que nos vale é que o Rego continua sereno (como o Povo) e corre nostalgicamente a gozar os fios de sol de Verão que ainda escorrem do Caramulo.