Tourigo, o berço da Touriga Nacional

E se for mesmo verdade? ... estaremos preparados? Para sermos mesmo o berço da touriga nacional? Algum tempo passou desde que lançámos aqui o desafio de propor Tourigo como berço da Touriga Nacional, essa encubadora de taninos dos melhores vinhos nacionais. A ideia ganhou raízes, a início muito circunscritas, para depois "arrepiarem" caminho e lançarem a sua semente por vários sítios do cyberespaço. Porque não é todos os dias que uma freguesia tem como "marca de água" o nome de uma casta como a Touriga Nacional, siga as novidades em Tourigo, berço da Touriga Nacional

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Inquietam-se as águas no Rego...

A propósito do recente post "Verão de lazer", dois regonautas fizeram comentários, que agradecemos e, pela sua relevância, destacamos aqui as questões que levantaram, que são de todo o interesse para o Reino em redor do Rego:

- eventual renovação do piso do campo de ténis/futsal;
- eventual não abertura do 'cerveijódromo' na temporada de Verão 2009.

Inquietam-se as águas no Rego... por um lado, seria boa a concretização da primeira questão. Quem sabe, poder-nos-íamos regozijar com a presença de Michelle Brito neste campo de ténis privilegiado pelas vistas e até, porque não, dar umas sessões de esclarecimento sobre o tema "ténis-concentração-décibeis".


Quanto à segunda, a concretizar-se, o cenário seria muito mais tenebroso. Julgamos ser improvável mas, contudo, possível. Seria um desperdício de "sinergias" e de iniciativas culturais originais (quem não se lembra do Natal em Agosto?), já para não falar no desaproveitamento do gás do Rego, que acalenta manter-se vivo esse espólio do cerveijódromo, único do Tourigo. No entanto, a surpresa é mesmo um predicado da Zona de Lazer...

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História do Tourigo e a passagem de D. Ximenes Belo

Pelo interesse e carácter ímpar da visita, aqui fica o relato da passagem de D. Ximenes Belo pelo Tourigo:

D. CARLOS FILIPE XIMENES BELO NO TOURIGO
D. Ximenes Belo, bispo residente e administrador apostólico de diocese de Díli entre 1983 e 2002 e Prémio Nobel da Paz em 1996, esteve no passado dia 5 do corrente no Tourigo. Na véspera, no dia 4, proferiu em Tondela, no auditório da ACERT uma palestra sob o tema “Os Jovens e a solidariedade: razões para a praticar”.
O motivo da passagem de tão ilustre personagem pela povoação relacionou-se com a vontade expressa por D. Ximenes de visitar o lugar onde nasceu D. José Manuel Carvalho, bispo de Macau e Timor e conhecer os seus eventuais familiares. Acompanhado pelo director da Escola Profissional de Tondela, Dr. João Carlos Figueiredo, o bispo Emérito de Timor-Leste, chegou ao Tourigo cerca das 10h30 de sexta-feira, dia 5, dirigindo-se a seguir para a casa do falecido Cónego Maximino, hoje habitada por uma sobrinha-neta de D. José Manuel Carvalho, D. Maria da Conceição Matos Carvalho que ali vive com sua filha Maria Teresa e com a neta, Celine. D. Ximenes Belo teve ocasião de trocar impressões com aquela descendente do Bispo de Macau e Timor, apreciar uma fotografia a óleo e ver vários objectos – o livro de curso, fotografias e peças de louça com o brasão -que foram pertença do seu colega que administrou a diocese de Macau e Timor entre 1897 e 1902, data em que foi nomeado para a diocese de Angra do Heroísmo, onde viria a falecer repentinamente na noite de 24 de Abril de 1904, com sessenta anos de idade.(...)

Quem foi D. José Manuel de Carvalho?
D. José Manuel de Carvalho nasceu no Tourigo em 16 de Setembro de 1844. Fez o curso do Seminário em Viseu, onde se ordenou. Frequentou depois a Universidade de Coimbra onde se formou em direito. Em Viseu foi professor no Liceu e deu aulas de teologia no Seminário. Apresentado para o Bispado de Macau em 4 de Fevereiro de 1897, recebeu a confirmação papal em 19 de Abril e em 29 de Agosto embarcou para desempenhar o seu cargo na diocese de Macau-Timor. Por motivo de saúde foi transferido para Angra em 1901, tomando posse da diocese em 1902.
Um dos últimos actos deste prelado foi uma provisão sobre o quinquagésimo aniversário da proclamação dogmática da Imaculada Conceição em 28-11-1904. Esse Ano Jubilar foi condignamente celebrado em 8 de Dezembro desse ano. Em 24 de Fevereiro de 1904, faleceu repentinamente. Teve um funeral solene com a participação de uma força militar que deu as descargas do estilo, acompanhadas pelo troar das salvas da artilharia do Castelo de S. João Baptista. Recorde-se que seu sobrinho, o Cónego Maximino Viegas de Matos Carvalho, foi seu secretário particular e seu testamenteiro. A propósito, diz-se que já D. José Manuel Carvalho sonhava com a criação da Freguesia de Tourigo e teria pedido a seu sobrinho que ajudasse na construção de uma Igreja e um cemitério para que esse sonho se pudesse concretizar. Um outro pedido de D. José Manuel de Carvalho a seu sobrinho, teria sido a construção da actual Igreja em 1943. Só foi pena que a antiga capelinha a Stº. Amaro, um património do século XVII, tivesse sido destruída!...

Quem é D. Carlos Filipe Ximenes Belo?
Carlos Filipe Ximenes Belo tinha apenas dois anos quando seu pai, um professor primário, faleceu. A sua infância foi passada nas escolas católicas de Baucau e Ossu, tendo depois frequentado o seminário de Daré, nos arredores de Díli. Ali conclui o seu curso em 1968. Entre 1974 e 1976 repartiu o seu tempo entre Timor e Macau; entre 1969 e 1981, entre Portugal e Roma estudou filosofia e teologia. De regresso a Timor-Leste foi professor e director do Colégio Salesianos de Fatumaca. Em 1983, Ximenes Belo foi nomeado administrador apostólico da diocese de Díli, tornando-se chefe da Igreja em Timor-Leste. Em 1988 foi consagrado Bispo em Lorium, Itália. A partir daí é bem conhecida a sua luta e os seus apelos internacionais para chamar a atenção para o povo timorense que está “ a morrer como povo e como nação.” A sua obra corajosa em prol dos timorenses, em busca da paz e da reconciliação foi internacionalmente reconhecida. Pode dizer-se que a atribuição do Prémio Nobel da Paz foi um reconhecimento lógico do trabalho do prelado. Em 2002 e já com o povo timorense independente, o seu estado de saúde agravou-se devido às sequelas deixadas pelos acontecimentos que vivera. O Papa João Paulo II aceitou o seu pedido de demissão e D. Ximenes Belo veio para Portugal para receber tratamento médico. Com a saúde recuperada fez serviço de missionação na diocese de Maputo, Moçambique. Agora, em Portugal, continua a sua a missão de solidariedade em prol das crianças e de todo o povo de Timor-Leste. A simplicidade do Bispo Emérito de Timor-Leste, a sua cruzada humanitária a favor do povo timorense, a sua humildade, o seu apelo constante à solidariedade, ao Diálogo Intercultural entre os povos, são a prova de que só com o contributo de todos é possível construir uma sociedade melhor e mais justa para todos. A visita do Bispo D. Ximenes Belo não só como alto dignitário da Igreja Católica, mas também como Prémio Nobel da Paz fica gravada a letras de ouro na história da Freguesia do Tourigo.


Autoria de Manuel Ventura da Costa, adaptação do texto publicado no Jornal de Tondela