Fomos encontrar este moinho num estado bem diferente do primeiro, que já tinha sido alvo de cimento e tijolos.
A sensação que se tem é que, ao entrar neste reino maravilhoso do Rego, estamos a entrar numa catedral natural e a nave central é feita deste corredor de verde bosque, que nos guia até aos fiéis guardadores do Rego.
Os moinhos são hoje as silenciosas testemunhas de quem entra no berço do Rego. Protegem-no, acompanham-no. Mesmo presos ao tempo, a sua presença é prova de muitas tropelias, aventuras e conquistas dos que os construiram e lhes delegaram a tarefa de interagir com o Rego, tirando dele o melhor partido.
Ao seguirmos pela nave central da catedral do Rego, o tronco que se banhava no Rego, mais parecia um pastor com o seu cajado deleitando-se, preguiçosamente na poça do Rego, enquanto o seu rebanho - os moinhos - pastavam, há tanto tempo já, pelas origens do Rego.
Em jeito de fiscal fronteiriço, parecia interrogar-nos sobre as nossas intenções: "_ Forasteiros, se vierem por bem, entrem! Sejam bem-vindos!".
A partir daqui, ultrapassámos a fronteira e seguimos.
Ao nos aproximarmos, a primeira reacção foi perceber que este segundo bastião do Rego se dava a conhecer timidamente. Para o vermos melhor, tivemos de descortinar a cabeleira de raízes que o reveste e aconhega.
Que histórias contam as raízes? Quem fez este moinho? Quem o ergueu, juntando pacientemente, como peças de puzzle, as pedras que ali se mantêm?
Bem esperámos as respostas mas, ao invés, demos conta que, se pararmos um pouco e deixarmos o silêncio falar, podemos nitidamente escutar as vozes dos que por ali passaram antes, muito antes... como coros afinados de uma só voz límpida: a da água que, sem pressa, caminha aos pés dos moinhos.
JSR
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